quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Another porn day in the life

Era madrugada. Os corpos moviam-se frenéticos em encontro uns aos outros. No teto, estrelas falsas piscando em desespero. No ar, suor em cheiro. Largos sorrisos fúteis rasgavam o ambiente em tiras de superficialidades declaradas. No canto, um menino assustado. Assustado com a voracidade de um mundo recém-descoberto. Algo move-se em sua direção. Pessoas tocam-lhe a face, o corpo. Puxam-lhe a roupa e seus cabelos. Sussurram obcenidades, enquanto esfregam as mãos em seu peito. Não. Foge. Corre para outro canto, mais vazio, onde consegue observar a multidão. Pessoas amontoadas em um cubículo sonoro e pulsante. No canto também outra pessoa. Essa, comandando a orgia. Com grandes orelhas falsas e um olhar fixo em dois pequenos discos pretos que ligam-se com suas mãos. Movimentos fortes e ritmados em cima dos discos fazem a massa disforme de lascívia se mover. Olhar curioso em cima de tudo. No meio, três pessoas da terra, junto com três pessoas de outras terras. Conversas abafadas, mas perfeitamente não-entendidas. Não sabem se comunicar, ao menos, não verbalmente. Seis mãos em seis corpos. Seis corpos em seis mãos. Espaço curto de tempo-espaço. Saia curta e muito fácil. São seis na rua, seis fugitivos, seis vontades. São seis em fogo. A rua escura propicia mãos invisíveis de sensualidade sem ternura. Incomunicavelmente sexo. Ainda não. Local final de começo de noite. Quartos separados apenas pelo traço. Sons visivelmente misturados. Quem quer quem? Aquém, ninguém. Os pelos se tocam, sem se provar. Gemidos de vontade incontida em peito de cabelo. Animalesco. Toques afobados, afoitos. Amedrontado por saber de tanto. Quanto? Tanto. Coito. Morte da inocência, através da violência. A dor se traduz em visibilidade. Em luz. No ato, um menino perdido e sem tato. No pós, seis dividido em dois. Três pra cá. Três pra lá. Sem comunicação verbal. Sem ligação. Sem sentido. Sem. Era dia.

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