quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Estamos em Mim

Deitei ainda com a roupa do corpo. Estava exausto e meus músculos estavam quentes e doiam, inchados. Aos poucos, a respiração ofegante deu lugar à serenidade, acompanhada do barulho das pás do ventilador de teto. Caído ao chão, o braço brincava com a gatinha, que teimava em rodear e miar, entre os dedos da mão. Um sorriso de lado veio, fazendo com que os olhos fechassem-se involuntáriamente, puxando o sorriso com eles. Seguida da calmaria, veio a tempestade do dormir. Um universo novo se abria e o escuro começava a tomar forma. Cores das mais diversas apareciam por todos os lados e comecei a diferenciar cada coisa em meu mundo recente. Um carro passeava de lado, enquanto pássaros nadavam bem abaixo da linha do oceano. Um local onde o verde era chamado de vermelho e o preto de anil. Um lugar dominado por todas as coisas surreais e fantasiosas de nossas mentes.
Ao correr pelo oceano, percebi que pequenos splashes faziam-se compassados atrás de mim e sem desviar o olhar, nem mexer minha cabeça, vi pelo retrovisor que longos cachos esvoaçantes ruivos e curiosos seguiam-me. De sopetão, virei o olhar e parei, esperando o encontrão que levaria do perseguidor. Era um menina linda, deveria ter de oito a nove anos e quicando antes que pudesse analizar mais um pouco, caiu em meu colo, jogando-nos no chão de areia oceânica. Assustada, perguntou-me o número de registro geral três vezes, pois é assim que as pessoas se conhecem e deixam de ser estranhas um as para as outras. Após dizer-lhe todos os números, sem nem parar para pensar o motivo, ela disse-me que não tinha um número, mas que todos chamavam-a por Delírio, mas que podia chamar-lhe de Del. Fiquei feliz por poder usar um apelido, já que todos usavam seu nome, ou codinome, não sei. Vi novamente seu semblante, mas dessa vez parecia diferente. Um olho de cada cor, verde e azul, algumas sardinhas em sua pele branquíssima e um cabelo ruivo bem curtinho, mas não era longo? Ela possuia brincos de peixes vivos, que nadavam enquanto continuavamos a andar e eu a observar. Ela mantinha-se falando em braile, mas eu quase não entendia nada. Paramos para acender uma fogueira e eu pude enfim perguntar-lhe onde estávamos. Ela me olhou perplexa e disse com o olhar mais penetrante que já presenciei: - Estamos em mim.
Acordei com minha gata cheirando-me o nariz. Era hora de ir trabalhar.

O gostoso de sonhar é acordar ainda sentindo cada sensação.

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